Universo em evolução
A. Fase dominada por luz e partículas
É possível que existam outros universos. O nosso nasceu há 13,7 bilhões de anos, numa grande explosão, o Big Bang. Uma gotícula de energia pura, infinitamente quente e densa, entrou em expansãoe esfriamento. Eras inteiras se sucederam em frações de segundos. As quatro forças se desacoplaram uma após outra e a expansão acelerou-se de forma inflacionária. A matéria e a antimatéria criavam-se e aniquilavam-se mutuamente em forma de luz, restando apenas 1 bilionésimo da matéria que existia. À idade de 3 minutos, 10% do hidrogênio havia se transformado em hélio. O universo era uma espécie de sopa uniforme, luminosa e “intransparente” (como uma lâmpada de gás). A luz não permitia a aglutinação da matéria. Aos 400 mil anos, a temperatura baixou para 3 mil graus e o plasma ficou neutro, em forma de átomos. O céu tornou-se transparente e escuro, como ainda é hoje.
B. Formação dos astros e evolução química
Comandadas pela gravidade da “matéria escura”, as tênues nuvens de gás condensam-se em “rios” de matéria. Após 200 milhões de anos de escuridão (idade das trevas), formou-se a primeira geração de estrelas que re-iluminaram o universo e aglutinaram-se em galáxias. O coração quente das estrelas passou a fundir os átomos menores em maiores. As grandes estrelas formaram o oxigênio, e as médias formaram o carbono e o nitrogênio. Aos 2 bilhões de anos, o universo já estava repleto desses átomos biogênicos. Aos 5 bilhões de anos, a tabela dos elementos químicos estava completa. Átomos começavam a ligar-se formando moléculas, sendo a água uma das mais abundantes e mais antigas. Há 4,56 bilhões de anos, na periferia da galáxia da Via Láctea, uma nuvem de gás e poeira condensou-se, formando uma pequena estrela, o Sol, rodeado por um carrossel de planetas. Entre eles, um (pequeno) planeta rochoso situado na zona de água líquida, a Terra.
C. A evolução da vida na Terra
A vida neste planeta parece ter se originado nos oceanos. Moléculas parecidas com o RNA passaram a replicar-se. Inicialmente anaeróbica e microscópica, a vida passou por uma série de diversificações. Há cerca de 3,8 bilhões de anos ela já fazia fotossíntese. A atmosfera encheu-se de oxigênio, aniquilando a maior parte da vida anterior. Há 2,5 bilhões de anos apareceram as células com núcleos (eucariontes) que reproduziam-se sexuadamente. Há 600 milhões de anos apareceram os seres multicelulares (macroscópicos). Há 440 milhões de anos as plantas saíram dos oceanos para colonizar a terra firme, logo seguidas pelos insetos e répteis. Os dinossauros, após dominarem a Terra por 200 milhões de anos, foram extintos, deixando espaço para nossos antepassados mamíferos evoluírem. Os hominídeos (um ramo dos primatas), passaram a andar em pé (6 milhões de anos atrás), desceram das árvores, aprenderam a construir instrumentos de pedra e dominaram o fogo (há 400 mil anos). Diversos ramos de hominídeos conviveram até cerca de 200 mil anos atrás, quando só restaram os Neandertais e o Homem Moderno.
D. A Humanidade
O homem moderno surgiu há 150-200 mil anos atrás e há 40-70 mil anos adquiriu a capacidade de operar com símbolos. Ao ensaiar as situações nesse espaço virtual para depois atuar no mundo concreto, obteve enorme poder sobre a natureza. Há 28 mil anos, já havia dizimado seus concorrentes mais fortes, os neandertais. A extinção de outras espécies continuou em grande escala até hoje. Ao inventar a agricultura, assegurou a abundância de alimentos, multiplicando velozmente a população humana. Formaram-se as vilas e as cidades, onde ocorriam ricas trocas de produtos e informações, resultando na invenção da escrita, da matemática, da ciência, da filosofia e das artes. O universo hoje fala pela nossa boca, enxerga-se pelos nosso olhos, conhece-se pelas nossas mentes. Cada ser humano tornou-se um universo inteiro, tão complexo que é desconhecido por ele próprio. A evolução social cresce em ritmo acelerado. Enquanto isso, o maquinário lento e inexorável da evolução biológica continua a transformar nossos corpos. Não somos nem o ápice nem o fim da evolução, somos apenas uma espécie transitória. Impossível prever como serão nossos descendentes num futuro distante, aparecerá algo ainda mais surpreendente do que a linguagem simbólica?
E. O Futuro
O Sol aumenta de luminosidade à medida que envelhece, aquecendo a atmosfera terrestre. Daqui a 700 milhões de anos, a biosfera morrerá. Talvez nossa ciência e tecnologia permitam que nossos descendentes escapem dessa tragédia planetária. No fim das contas, a linguagem simbólica, que produziu tanta matança, talvez possa resgatar a rica experiência da biosfera e transportá-la para um abrigo seguro em um planeta distante. Daqui a 5 bilhões de anos, o Sol inchar-se-á em forma de gigante vermelha, expelindo uma linda nebulosa planetária. Seu cadáver contrair-se-á numa bola escura, milhões de vezes mais densa que o ferro. Impulsionado pela “energia escura”, o universo continuará se expandindo de forma acelerada, ficando cada vez mais rarefeito, escuro e frio. Indefinidamente?
Num universo em que os próprios astros são transitórios, a humanidade não é mais que um brevíssimo capítulo. Embora microscópica no tempo e no espaço, é ela, entretanto, quem conta esta grande história. Nós contemos o universo que nos contém.